Em meio à seca que castiga boa parte do interior do Rio Grande do Norte, São José do Seridó tem motivos para comemorar. O município celebra, em 2025, os 11 anos do seu Sistema Agroflorestal (SAF), um projeto que alia sustentabilidade, educação e segurança alimentar — e que já se consolida como modelo para outras cidades do Seridó.
Implantado em 2014 às margens do rio São José, o SAF nasceu do gesto simbólico de estudantes que plantaram as primeiras mudas. Hoje, mais de uma década depois, a área abriga mais de 20 espécies vegetais e colhe os frutos — literalmente — de um trabalho contínuo e comunitário.
Neste ano, oito árvores adultas das espécies umbu-cajá e cajarana produziram mais de 150 quilos de frutos, destinados à merenda das escolas estaduais Raimundo Silvino da Costa e Jesuíno Azevedo. O ambientalista Josimar Araújo, idealizador da iniciativa, comemora: “É gratificante ver o retorno desse trabalho chegar diretamente às crianças.”
Além da produção atual, o sistema se prepara para o futuro. Foram plantadas 12 mudas da variedade manga espada, conhecida pelo sabor e potencial de produção. A expectativa é que, em poucos anos, essa nova geração de árvores contribua ainda mais para a merenda escolar e para o consumo da população local.
O SAF também se destaca pelo seu valor pedagógico. A área, que pertence ao domínio público, é utilizada como sala de aula ao ar livre para práticas de educação ambiental. Os frutos colhidos são distribuídos gratuitamente à comunidade, promovendo soberania alimentar e reafirmando o compromisso com a biodiversidade.
Durante recente visita técnica com secretários municipais, Josimar Araújo ressaltou um dos grandes diferenciais do projeto: a diversidade de espécies garante colheitas ao longo de todo o ano. “Cada planta tem seu tempo. Isso assegura variedade e constância no fornecimento de alimentos”, explicou.
A relevância dessa iniciativa encontra eco em discussões globais. Em São Paulo, durante evento sobre sustentabilidade, a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland — conhecida mundialmente pelo relatório “Nosso Futuro Comum” (1987) — destacou a urgência de transitar para sistemas alimentares regenerativos. “O modelo atual de produção e distribuição de alimentos é responsável por cerca de 30% das emissões de gases de efeito estufa”, alertou Brundtland. E é justamente esse novo paradigma que São José do Seridó já coloca em prática.
Além dos frutos alimentares, o SAF abriga plantas de uso medicinal e energético, como o Jucá, uma espécie nativa valorizada tanto pela medicina popular quanto pela alimentação de animais. Um exemplo claro de como é possível aliar tradição, ciência e compromisso com as futuras gerações.
Que o exemplo de São José do Seridó inspire mais ações como essa em todo o Seridó e no Rio Grande do Norte.
